domingo, 22 de fevereiro de 2009

Photomaton & Vox - O que diz Molina

A partir de Rimbaud começa um período de exigência nefasta para o poeta: que se cale a boca. Uma máxima que antecipa ou que prevê um período de silêncio segundo Borges, esse silêncio que é criado pelas palavras mesmas. Então o ofício do poeta vê-se ameaçado por uma condição: calar-se a boca e ainda assim tentar fazer poesia.
Que tipo de poemas é preciso escrever quando a subjectividade duma época está determinada pela colectividade ou, por chama-lo doutro modo, o rigor implacável do mercado? Como é ainda possível confrontar a gravitação interna que exige uma expressão passando pelas “armas inocentes” (35) para chegar a esse momento culminante da “claridade inexplicável”? “Qualquer idiota escreve um bom poema” afirma Rui Zink e é completamente verdadeiro porque o acto da poesia apenas precisa uma fidelidade, uma espécie de intuição, uma escrita de riscos e acidentes onde o único que interessa é o movimento. O diabo duma arte de flutuações, onde tudo é simulado, uma arte exclusiva da mão dirá Helder: “mal tocando nas fendas/ o tremor hirsuto dum cometa cravado desde as costas/ aos lençóis.” (161) O ofício de perder-se disse Garcia Vega, para espreitar o próprio rosto nesse remoinho. O movimento das palavras, os signos en rotación segundo Octávio Paz, duma arte que se confunde com o crime, matar os significados na disseminação dos novos, sim aquilo é Derrida. A aventura que é tudo sendo nada, dirão os pessoalogos. O poeta é o exemplo desse excesso, ecce homo, ali assinalado com os dedos pela polícia, um criminoso, um idiota. E no concurso de poesia um rapaz se aproxima ao júri:
- Senhor Borges e como reconhece um bom poema?
- Será porque o coração bate mais depressa depois de ter lido um milhão de poemas.
E não é piada, continua.

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